A Apple começou a usar esse parafuso no primeiro iPod e 24 anos depois, ele continua sendo crucial na estratégia global da empresa

Ele foi introduzido em 2001 e, até hoje, pode ser encontrado em iPhones, iPads, Macs e até em celulares de outras marcas

iPod, iMac, acessórios da Apple e muito mais. Imagem: Wikimedia Commons
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

A primeira vez que ele apareceu em um produto da Apple foi em 2001, com o iPod. Depois, voltou a ser usado no MacBook Pro de 15 polegadas, lançado em 2009. E, exceto pela própria Apple e seus fornecedores, ninguém no mundo tinha uma chave de fenda que servisse para desenroscá-lo. Isso forçou especialistas a correrem atrás, fazendo engenharia reversa.

Os parafusos pentalobulares, também conhecidos como pentalobes, são uma parte essencial do processo de fabricação e, de quebra, dificultam a abertura fácil por terceiros. É um dos pilares que sustentam a política de reparos da empresa.

Um parafuso que é muito mais do que isso

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No dia 23 de outubro de 2001, Steve Jobs entrou para a história ao apresentar ao mundo o primeiro iPod. Ele o tirou do bolso para fazer a analogia de poder carregar sempre 1.000 músicas no bolso, e o resto é história. O dispositivo acabou revolucionando a indústria da música, plantando a primeira semente do streaming e superando os formatos físicos.

No entanto, houve algo que ninguém percebeu naquela apresentação. Estava no interior do iPod e eram quase uma dezena de parafusos pentalobulares. Eles eram usados como parafusos de segurança para fixar o disco rígido de 1,8 polegadas que equipava o reprodutor da Apple, fabricado pela Toshiba.

A origem exata desses parafusos ainda é desconhecida, já que nunca foram patenteados ou registrados pela Apple, Toshiba ou qualquer outro fabricante. No entanto, o primeiro produto conhecido a usar parafusos pentalobulares foi justamente o disco rígido da fabricante japonesa, o MK5002MAL. E a Apple os adotou quase que imediatamente.

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A peculiaridade desses parafusos está no seu formato de estrela com uma cavidade composta por cinco lóbulos (diferente dos parafusos Torx, que têm seis). Mas não é só o formato que os torna especiais — é também o fato de exigirem chaves de fenda específicas, que na época não estavam disponíveis para o público em geral.

Com o passar dos anos, a Apple foi expandindo o uso desses parafusos para mais dispositivos, como iPhones e Macs, tornando-os visíveis nas carcaças externas. O primeiro a adotá-los externamente foi o MacBook Pro de 2009. O objetivo, previsivelmente, era impedir que terceiros abrissem os dispositivos para modificar suas peças ou realizar reparos sem a autorização expressa da empresa.

Alguns fabricantes chineses também começaram a usar esses parafusos, como a Huawei, que deu seus primeiros passos com os pentalobulares no Huawei P9. A Meizu, outra marca chinesa, também adotou o padrão em vários de seus smartphones.

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A Apple continua usando parafusos pentalobulares até hoje, mas há quase 15 anos eles, de certa forma, perderam sua razão de ser. Foi com o lançamento do iPhone 4, em 2010, que diversos fabricantes começaram a desenvolver chaves de fenda capazes de remover esses parafusos, disponibilizando-as para o público em geral.

Na verdade, a existência de ferramentas acessíveis para desmontagem é algo que hoje se tornou obrigatório em muitos territórios, como a Europa, onde a legislação defende o direito ao reparo.

Parafusos que definem a geopolítica da Apple

A Apple foi pressionada a buscar alternativas à fabricação na China devido à guerra tarifária com os Estados Unidos, e tudo indica um aumento da produção na Índia.

Trump queria que a produção fosse transferida para solo americano, mas a Apple já avaliou, em várias ocasiões, os muitos motivos pelos quais isso não seria viável, nem economicamente, nem logisticamente.

O iPhone é composto por peças de mais de 40 países, e, do ponto de vista logístico, seria extremamente complexo levar todos esses componentes para os Estados Unidos. E aí entram os parafusos novamente — sejam pentalobulares ou de outros tipos.

Pode parecer que uma empresa do porte da Apple, que fabrica mais de 200 milhões de iPhones todos os anos, teria o processo de montagem completamente automatizado. Especialmente no caso dos parafusos, considerando que cada aparelho usa cerca de 74 deles. Mas não é bem assim — esses parafusos ainda são apertados manualmente por funcionários da Foxconn, Pegatron e outros parceiros de fabricação da Apple.

O curioso nesse caso, como revelou o Financial Times, é que para os parceiros da Apple sai mais barato contratar mão de obra do que investir em soluções automatizadas, como robôs. E essa, paradoxalmente, é uma das razões mais importantes pelas quais a Apple não considera fabricar iPhones fora de países asiáticos.

É difícil encontrar mão de obra disposta a realizar tarefas tão manuais, repetitivas e, para ser direto, exaustivas. Por isso, embora essa seja apenas uma das muitas variáveis que influenciam a escolha de países como China ou Índia para a fabricação, os parafusos acabam desempenhando um papel crucial nas estratégias de produção da Apple.

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