Esta semana saiu um novo relatório atualizado do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), de Washington. Os dados, sem rodeios, deixam pouca margem pra imaginação: pouco mais de três anos após o início da invasão russa à Ucrânia, o conflito já tem números de baixas que o colocam entre os mais sangrentos da história recente.
Pra entender melhor, fomos atrás das estatísticas históricas.
O custo humano de uma guerra travada. O estudo do CSIS revela que o total de soldados mortos ou feridos chega a quase 1,4 milhão, sendo cerca de 1 milhão russos e 400 mil ucranianos.
O número impressiona ainda mais se levar em conta que a Ucrânia não divulga seus dados oficiais e que, segundo especialistas, a Rússia sistematicamente subestima suas perdas. A pesquisa usa estimativas de fontes dos EUA e Reino Unido, além de imagens de satélite e análises de campo.
A guerra mais lenta; o estudo traz outros detalhes
Apesar do número gigantesco de baixas, os avanços territoriais russos desde janeiro de 2024 foram praticamente insignificantes: menos de 1% do território ucraniano conquistado, com uma média de avanço de apenas 50 metros por dia — mais lento até que as ofensivas mais caras da Primeira Guerra Mundial.
Hoje, a Rússia controla cerca de 20% do território da Ucrânia, mas sem avanços decisivos. Essa lentidão, junto com a destruição massiva de equipamentos bélicos, transformou a campanha russa em um dos exemplos mais claros de guerra de desgaste do século 21.
Perdas irrecuperáveis
Se algo mostra a brutalidade do conflito, são os números do CSIS, que estimam pelo menos 250 mil soldados russos mortos em combate — a maior taxa de mortalidade militar russa ou soviética desde a Segunda Guerra Mundial. A Ucrânia teria perdido entre 60 mil e 100 mil soldados.
Mesmo assim, a proporção das forças na linha de frente é esmagadora: mais de 400 mil soldados russos contra cerca de 250 mil ucranianos. A Rússia se beneficia de uma população muito maior e de mecanismos agressivos de reposição. Como já contamos, Moscou evitou uma mobilização geral, mas tem recrutado prisioneiros, devedores e pessoas com processos criminais, oferecendo contratos lucrativos ou perdão das penas em troca do serviço militar.

O alcance histórico. Com o número divulgado pelo CSIS, fomos atrás das estatísticas históricas de conflitos bélicos similares (sem contar guerras civis ou genocídios), todos depois da Segunda Guerra Mundial, para entender o impacto das perdas que a Rússia está sofrendo na guerra da Ucrânia. O ponto de partida é a estimativa de 250 mil mortos desde o começo do conflito, em 2022.

Um ponto importante. A estimativa de 250 mil mortes torna o conflito na Ucrânia o mais letal para as forças russas desde a Segunda Guerra Mundial, superando com folga as perdas na guerra do Afeganistão (1979–1989), quando a URSS perdeu cerca de 15 mil soldados — mas isso em dez anos. Para comparar, na Guerra da Coreia (1950–1953), a China, principal aliada da Coreia do Norte, perdeu entre 180 mil e 400 mil combatentes em três anos, enquanto os Estados Unidos tiveram cerca de 33.700 baixas em combate.
Nem a Guerra do Vietnã escapou
Entre 1955 e 1975, os Estados Unidos tiveram 58.220 mortes, mas, novamente, em um período de 20 anos. O Vietnã do Norte, por sua vez, perdeu entre 400 mil e 1,1 milhão de soldados, números que também se acumulam ao longo de duas décadas.
Até mesmo na devastadora Guerra Irã-Iraque (1980–1988), com cerca de um milhão de baixas combinadas, só o Irã superou as perdas atuais da Rússia, mas em um período mais longo, estimado entre 200 mil e 262 mil mortos. Isso mostra que a intensidade das perdas russas, concentradas em tão pouco tempo, é algo excepcional na história dos conflitos interestatais contemporâneos.
Consequências profundas
Essa é a última peça do quebra-cabeça. Apesar de ter uma população maior que a da Ucrânia e, teoricamente, mais capacidade para repor perdas humanas, a Rússia enfrenta uma erosão rápida e preocupante da sua força militar profissional. Diferente de guerras antigas, onde as mortes aconteciam de forma mais diluída, o ritmo atual — cerca de 7 mil soldados mortos por mês — pode comprometer estruturalmente o poder das forças armadas russas.
Se esse padrão continuar, a Rússia pode chegar, em médio prazo, a um limite psicológico e logístico que impeça a sustentação da ofensiva. Para colocar em perspectiva, na Guerra do Golfo (1990-1991), o Iraque perdeu entre 20 mil e 35 mil soldados em pouco mais de um mês; já na invasão do Iraque em 2003, os Estados Unidos tiveram menos de 5 mil baixas em oito anos. O contraste é brutal.
A guerra na Ucrânia, pela concentração de perdas em curto espaço e pela letalidade, virou um caso raro, um alerta sobre o potencial de desestabilização interna que uma guerra assim pode causar ao país agressor.
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